Indígenas fecham BR 101 em protesto contra o “marco temporal” e o PL 490
Manifestantes da comunidade indígena Tekoa Tarumã, às margens da BR-101, no bairro Corveta, em Araquari, fecharam temporariamente a rodovia na quarta-feira (30/06) em mais um “Levante pela Terra”’, acompanhando mobilização em nível nacional. O ato contou com o apoio de sindicalistas do norte do estado aos indígenas Guarani e Guarani Mbya, que ao som de tambores e músicas protestaram contra o chamado “Marco Temporal”, em análise pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A medida é uma estratégia defendida pelos ruralistas e setores do agronegócio interessados na exploração das terras indígenas no país e estabelece que os povos originários somente teriam direito à posse de suas terras se estivessem nelas na data de promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988. O Sintespe vem prestando solidariedade e apoio à luta dos povos originários.
Os indígenas também protestam contra o Projeto de Lei 490/2007. Esse PL propõe a entrega das terras indígenas para exploração dos garimpeiros e mineradoras. Mesmo com a reação dos povos indígenas que estão há semanas em Brasília, sofrendo ataques policiais e resistindo em atos públicos, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal aprovou o PL 490, ignorando o direito dos povos originários e indígenas às suas terras. Foram 40 votos favoráveis e 21 contrários. Na terça-feira (29), os integrantes da Comissão ainda rejeitaram todos os destaques apresentados pelos deputados da oposição e considerados importantes pelos povos indígenas.
Durante o fechamento da rodovia, alguns caminhoneiros bolsonaristas demonstraram indignação e chegaram a ameaçar os manifestantes. “Vocês têm que viver na boiada”, gritavam alguns, conforme conta a cacica Andreia, que critica: “Eles pensam somente no dinheiro, nós não, queremos preservar as matas e os animais”. Ela considera que esse tipo de manifestação “é uma forma de mostrar que existe população indígena originária da etnia Guarani” e adianta que a luta vai continuar: “Desde os nossos avós a gente luta pelos nossos direitos, preservando para as futuras gerações, e pela terra, que significa o bem-estar para nossa gente”. A cacica ainda espera que “os governantes tenham consciência daquilo que os povos indígenas necessitam” e critica a postura do presidente Jair Bolsonaro, que desde o início do seu mandato fala em ‘aculturar os índios’. “O presidente não conhece a nossa cultura e quer acabar com todos os povos originários. Somos cidadãos, mesmo que diferenciados na educação, na saúde. Queremos que respeitem a nossa forma de organização, cultura, nossa fala, nossa crença”, defende.
Integrante de um dos 12 territórios Guarani existentes no norte de Santa Catarina, a aldeia Tekoa Tarumã possui 27 famílias, um total de 19 crianças. A cacica Andreia não esconde a dificuldade de viver às margens da rodovia BR 101: “Antigamente tínhamos acesso a qualquer lugar, agora é limitado, vivemos nessa região em volta das indústrias e isso dificulta bastante para mostrar nossa cultura. É importante que todos saibam que a gente está oprimida pelas fábricas ao redor da área indígena, com tudo contaminado, nós queremos acesso, queremos conviver conforme a nossa cultura”. Sobre a denúncia contra Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional pela tentativa de genocídio dos povos indígenas, a cacica reforça: “Essa é a realidade, o presidente não faz isso fisicamente, mas pela Lei, pelo racismo, pela violência, e isso dói muito para os povos indígenas”.