Em reportagem do Fantástico, inválidos da Assembleia alegam que foram curados pela fé
O programa Fantático, da Rede Globo, apresentou na noite de ontem uma reportagem sobre as aposentadorias por invalidez da Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Em cerca de 11 minutos, foi feito um resumo da polêmica que resultou nas perícias médicas que constataram indícios de irregularidade em 111 dos 210 inválidos dos legislativo.
Assista à reportagem exibida pelo Fantástico neste domingo, dia 16
A repórter Kiria Meurer teve acesso a todos os processos de aposentadoria e foi atrás de alguns dos inválidos que estão sob investigação do Instituto de Previdência de Santa Catarina (Iprev) e do Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), com ênfase para os aposentados de 1982.
Na calçada da Assembleia, ela tentou falar com Gaizito Neunberg, que correu uma prova de 10 quilômetros em cerca de uma hora no dia 2 de outubro. Perguntado sobre a invalidez permanente baseada em supostos problemas cardiácos graves, Gaizito ironizou:
— Eu devia andar de bengala? — perguntou o inválido, que chegou a convidar Kiria Meurer para uma “corridinha”.
Elpídio Ardigó foi aposentado por problemas graves no fígado. O médico Nicolau Heuko Filho, da Junta Médica do Estado, afirmou que alguém com aquele diagnóstico teria passado por hemodiálises e transplante de rim. Sem saber que estava sendo gravado, Ardigó admitiu que nunca se tratou.
— Não tem cura. Mas para o meu Deus não tem nada impossível. Agora, não te explico o milagre. É impossível — afirmou o aposentado.
Espondilite anquilosante, doença rara e incurável na coluna, foi o diagnóstico que aposentou Jandira Rodrigues, também em 1982. Nicolau Heuko Filho explicou que a doença faria com que ela estivesse hoje em “posição de esquiador”, sem poder caminhar. Caminhando normalmente, ela também deu justificativa divina para a cura.
— Não posso falar porque eu tenho uma coisa minha, da minha fé — disse Jandira.
A reportagem também trouxe novas revelações sobre a “máfia da muletas”, como ficaram conhecidas as aposentadorias por invalidez de 1982. Dos 75 casos de invalidez registrados naquele ano, 70% foram baseados em atestados médicos assinados por um pediatra, inclusive casos de doenças graves do coração. Alguns dos atestados que basearam a concessão dos benefícios tinham assinaturas diferentes para um mesmo médico.
Sem se idendificar, a mulher de um dos aposentados disse à reportagem que seu marido era saudável quando foi diagnostificada a invalidez e que, na época, funcionários da Assembleia foram convidados a se aposentarem, abrindo vaga para a contratação de pessoas indicadas. Na época, não existia obrigatoriedade de concurso público.
— Iam passando de sala em sala, chamando — afirmou.