Assembleia dos Portuários define os passos da luta contra a privatização
Atividade online aconteceu na noite do dia 13, reunindo 56 lideranças sindicais ligadas aos portos públicos
“O porto de São Francisco do Sul-SC tem uma história centenária que nos remete aos tempos de Getúlio Vargas. O Porto de Imbituba-SC cumpriu função estratégica na história do Brasil, viabilizando inclusive o embarque do carvão catarinense para outros países. O porto pertence ao povo brasileiro, é de segurança nacional, esta geração não tem o direito de abrir mão desse patrimônio, sem luta”. Assim o presidente do Sintespe, Antônio Battisti manifestou-se em defesa da manutenção do porto público, durante Assembleia virtual dos trabalhadores portuários, realizada na noite de ontem (13). Battisti coordenou o encontro, que contou com a presença do presidente do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, Sérgio Gianettto, além de mais de 70 lideranças.
Vai ter luta contra a privatização, os dirigentes sindicais deflagraram estado de greve, vão reforçar o apelo para as comunidades, uma intensa mobilização com faixas, cartazes, informativos e contatos diretos com os representantes políticos do Estado. Vale registrar ainda presença, na Assembleia, dos dirigentes portuários do Brasil, Valclides, Zé Camilo, Ubiratã, Ubirajara, além da jornalista Marina Vianna, assessora do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro, dentre outros, que aproveitaram para trazer a solidariedade e o apoio ao combate das privatizações e já lançaram o desafio de construir a unidade para uma greve geral dos portuários em defesa dos Portos Públicos e da Soberania Nacional. O Advogado Garcez, representando o coletivo da assessoria jurídica, integra a defesa dos portos públicos de São Francisco do Sul e de Imbituba.
Sérgio Gianetto solidarizou-se com os portuários de Santa Catarina que estão na luta contra a privatização dos portos de São Francisco do sul e de Imbituba, e resumiu os passos da sanha privatista em voga no Brasil de Bolsonaro: Primeiro atacam o serviço público – “dizem que o funcionalismo é um grande problema” – e depois começam a sucatear, colocando a opinião pública contra os servidores. O atual governo “fica inventando moda, pega modelo que não deu certo em lugar nenhum do mundo e entrega a autoridade portuária para a iniciativa privada”, criticou, citando como exemplo o Porto do Espírito Santo, também ameaçado de privatização. “Se conseguirem, vão ganhar dinheiro e precarizar o trabalho”.
O presidente do Sindicato dos Portuários também citou o exemplo do Cais da Gamboa, no Rio de Janeiro, onde foram investidos R$ 200 milhões na ampliação do cais, implantado um Plano Master para sua manutenção e crescimento durante muitos anos, segundo ele, e agora querem entregar à iniciativa privada, que deve utilizar o espaço para abrir restaurantes, cinema, hotel, para diversão. E reforça Sérgio Gianetto: “É um absurdo privatizar a autoridade portuária, precisamos mostrar indignação, temos que estar juntos nesta luta”.
Trabalhadores avulsos serão prejudicados.
Gianetto lembrou da época em que a operação dos portos foi privatizada no Brasil, em 1997, e que não atingiu a mão de obra avulsa, para advertir que “agora querem isso, os trabalhadores avulsos serão afetados também, o pouco que recebem, aproximadamente R$ 4 mil por mês, será reduzido a salário mínimo”. Para o dirigente, o problema está nas nossas escolhas políticas. Em 2018 o então candidato a presidente, Fernando Haddad (PT) assinou uma Carta Compromisso de que não privatizaria os portos, enquanto Bolsonaro disse exatamente o contrário. “Muitos portuários votaram nele, apesar disso. Temos que entender em quem vamos votar”. E pergunta: “E, em 2022, o que vão fazer com o nosso trabalho?”
Desemprego e fechamento de empresas
O representante dos trabalhadores no Conselho de administração do Porto de São Francisco do Sul, Almir Wagner, segue na mesma linha de pensamento. “A gente luta contra os privatistas e a falta de politização da companheirada”. Almir advertiu que não é apenas o emprego dos trabalhadores que será afetado, caso se concretize a privatização dos portos, “centenas de CNPJs vão fechar”, disse, citando o exemplo de duas cooperativas de transportes a granel sólido: “São empresas organizadas, com mais de 500 pessoas, têm sede própria, realizam compra conjunta de peças, são 500 caminhões. Tudo isto está em risco”.
A ideia de que aquilo que é privado traz eficiência é uma “mentira deslavada”. Almir Wagner lembrou de todo o processo de privatização da Rede Ferroviária Federal (RFFSA): “Hoje, temos a mesma ferrovia de 50 anos atrás, a mesma velocidade dos trens e capacidade dos vagões. Não houve investimento”, denuncia, “a intenção é comprar barato, ganhando um tempo para vender e lucrar”.
Envolvimento das comunidades
Almir Wagner falou sobre o engajamento da classe política do município contra a privatização, lembrando que o presidente da Câmara de Vereadores e o prefeito de São Francisco do Sul são estivadores, e também do apoio do deputado federal Carlos Chiodini (MDB), que preside a Comissão de Infraestrutura da Câmara dos Deputados.
Já o representante dos trabalhadores do Porto de Imbituba, na assembleia virtual, Luiz Piucco, destacou a presença significativa das lideranças sindicais e lembrou que a história do Porto de Imbituba é bem mais recente – “passou à gestão do estado em 2012 e os primeiros concursados foram chamados em 2015” -, portanto, ainda não possui tradição de luta contra a privatização. “Aprendemos fazendo, o movimento está sendo feito pelos próprios trabalhadores, no corpo a corpo”. Piucco também destacou o envolvimento da Câmara de Vereadores, da prefeitura e da população: “É muito gratificante, estão acordando contra esse absurdo que pode atingir a toda a comunidade”.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio Armazenador – Sintracasc (Terminal Graneleiro de São Francisco do Sul/SC), George Willian Wulf, insistiu que o terminal graneleiro e o porto são viáveis e reclamou do congelamento das tarifas portuárias, que já dura há três anos: “Em março deste ano foram embarcadas mais de um milhão de toneladas no Porto, isso significa que, em renúncia fiscal, a SCPar São Francisco do Sul deixou de ganhar até R$ 1,7 milhão”, denuncia.
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