Correios estão na esteira das privatizações do ministro da Economia Paulo Guedes
Em entrevista concedida à GloboNews recentemente, Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou que “há empresas que vão ser privatizadas que vocês nem suspeitam ainda”. Os olhos e a sanha do mercado se voltaram imediatamente para os Correios. Mas, para especialistas e sindicalistas da área, a privatização não é o caminho.
De acordo com Paulo Feldmann, doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor de economia brasileira da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), a proposta de entregar para o setor privado serviços estratégicos irá prejudicar a população.
“Se você pode privatizar e passar para uma empresa privada, como quer o Paulo Guedes, vamos ter uma empresa privada que assumirá os Correios. Isso não faz o mínimo sentido. Por que você vai sair do monopólio público para o monopólio privado? Qual é a vantagem? Você vai ter um grupo privado, que evidentemente vai querer ter o lucro dele, e certamente vai encarecer para o cidadão que precisa do Correios; ficará mais caro o serviço.”
Ainda na campanha presidencial de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro afirmou que privatizar a estatal era um de seus desejos de governo. “Hoje, os Correios têm muitas reclamações, diferentemente do passado. Então, os Correios, tendo em vista a não fazer um trabalho que eu acho que nós poderemos receber, podem entrar nesse radar da privatização”, sinalizou Bolsonaro em entrevista à TV Bandeirantes, em outubro de 2018.
Elias Cesário, conhecido como Divisa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo (Sintect-SP), não tem dúvidas de que segue estando nos planos do governo privatizar a estatal. “A privatização dos Correios é um prejuízo enorme para a população brasileira e para nós que somos trabalhadores dessa empresa.”
Interesses privados x públicos
Desde as eleições, os Correios aparecem no dicionário bolsonarista atrelados a palavras como “sucateado”, “crise”, “defasado” e “prejuízo”. A estatal mantém 105 mil funcionários em uma ampla estrutura que atende 5.524 municípios da Federação, sendo que apenas 324 não são deficitários. Porém, em 2017 o balanço da empresa foi positivo, gerando R$ 667 milhões de lucro no total. Os dados de 2018 ainda não foram divulgados pela estatal.
Para Divisa, o interesse do mercado é justamente nas regiões lucrativas. “O interesse seria pelos grandes centros e capitais e, automaticamente, deixar esse suposto prejuízo para o governo. Eles querem fatiar a empresa e comprar o que vale a pena, deixando o que dá prejuízo para o Estado”, explica o sindicalista.
O destino dos Correios, caso sejam privatizados, pode ser o mesmo da estatal paulista de energia elétrica – atual Enel –, de acordo com Feldmann.
“A Eletropaulo era um monopólio público há 20 anos atrás, hoje é um monopólio privado. De lá para cá, se olharmos os dados do setor elétrico, descontando a inflação, a tarifa cresceu quase 10 vezes no período. A qualidade do serviço piorou muito. Há 20 anos, o paulistano passava 12 horas por ano sem energia elétrica em sua casa. Hoje, ele fica mais de 20 horas. Piorou muito a qualidade e aumentou muito o preço. É o que acontecerá com os Correios.”
Ainda de acordo com o economista, privatizar a estatal iria no sentido contrário do que vem sendo adotado pelos governos internacionais. “Nos principais países do mundo, o correio é uma empresa estatal. Eu não conheço um país onde o correio seja uma empresa privada”, explica Feldmann.
A diversificação dos serviços oferecidos à população pode ser um dos caminhos para tornar a empresa ainda mais rentável e robusta, explica Divisa, para quem o governo deveria aproveitar a malha viária conquistada pela estatal.
“A modernização seria mais na questão de encomendas e prestação de serviços. Qual a necessidade dos brasileiros hoje? Eu gostaria de receber um computador ou uma geladeira na sua casa. Os Correios têm condições e malha para isso. No Oiapoque [município mais ao norte do Brasil, no estado do Amapá], você pode receber um produto pelos Correios”, avalia o sindicalista.
Outra medida apontada por Divisa para adicionar serviços aos Correios seria a emissão e distribuição de documentos. “Em muitas regiões do país, as pessoas precisam sair de suas cidades e viajar muitas horas para conseguir pedir e retirar documentação pessoal; podemos usar nossa estrutura para isso também”, finaliza.
Cinquentenário
O primeiro registro de agência postal brasileira é de 25 de janeiro de 1663, data que ficou conhecida como Dia do Carteiro no país. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi fundada em 20 de março de 1969. Portanto, a estatal acaba de completar 50 anos de atividade. Somente em 1835, os Correios passaram a fazer entrega a domicílio de correspondências particulares.