“Falta maior participação da mulher na vida política”
Em 2009, no dia 8 de março, centenas de mulheres estiveram reunidas, em uma grande manifestação internacional contra as desigualdades entre trabalhadores e trabalhadoras e no combate a violência às mulheres. O protesto aconteceu na fronteira de Santana do Livramento (RS), com a cidade de Riviera, no Uruguai. A cidade detém um número elevado de denúncias de violência contra a mulher. A manifestação foi proposta pela Comissão de Mulheres das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), entidade da qual a CUT é integrante.
Para falar sobre o papel da mulher em tempos de crise e no movimento sindical o SINTESPE entrevistou a sindicalista Anna Julia Rodrigues. Representante da CUT/SC, Anna Julia, foi responsável pela organização do grupo que participou da manifestação na Fronteira. Com 19 anos de atuação no movimento sindical, Anna Julia ainda destaca a importância da participação da mulher na vida política.
SINTESPE – Qual é o reflexo da Crise Mundial para as mulheres?
Anna Julia – As mulheres estão sendo as mais prejudicadas. Por isso, lançamos a campanha por igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, que tem como objetivo denunciar e avançar para a superação das desigualdades entre trabalhadores e trabalhadoras, na sociedade, no mercado de trabalho e no movimento sindical. Vamos lutar pela ampliação do acesso às creches públicas e pelo compartilhamento entre homens, mulheres e Estado, da responsabilidade com o trabalho reprodutivo e de cuidado com a vida humana.
Sintespe – Como está o mercado de trabalho para a mulher?
Anna Julia – Apesar do crescimento do número de trabalhadoras no mercado de trabalho no último ano – mulher 56,4% e homem 72%, a distinção entre salários ainda permanece em todos os setores. Entretanto, a disponibilidade de vagas não é o suficiente para acabar com a discriminação. Pesquisa realizada em 20 países pela Confederação Internacional dos Sindicatos indica que no Brasil é onde existe a maior variação entre salários de homens e mulheres, chegando a 34% de diferença.
Sintespe – Como você analisa o contexto familiar, onde o marido perde o emprego e a mulher trabalhadora passa a arcar com as responsabilidades da casa?
Anna Julia – A jornada de trabalho das mulheres é ampliada, devido à necessidade de conciliar o trabalho remunerado com o trabalho doméstico. Além disso, as trabalhadoras são as mais impactadas pelas transformações produtivas e pela flexibilização das relações de trabalho. Hoje a maioria das famílias é mantida por mulheres. Estima-se que elas são responsáveis pelo cuidado não remunerado de 11 milhões de crianças no Brasil.
SINTESPE – Qual é a sua opinião sobre as mulheres dos policiais militares (APRASC) que saíram as ruas para lutarem pelos direitos dos maridos?
Anna Julia – Mesmo sendo dona de casa, elas estão acompanhando e sabem dos direitos que os maridos tem. Isso mostra que as mulheres donas de casa podem exercer seus direitos e participar da sociedade de alguma forma. Eu acredito que através da luta, nós mulheres vamos construir uma sociedade mais justa, igualitária, fraterna e humana.
SINTESPE – Quais são os motivos para comemorar o Dia Internacional da Mulher?
Anna Julia – Considero um dia de luta e não de comemoração. Conquistamos avanços como o direito ao voto, a licença maternidade e o parto humanizado. Mas temos muitas lutas pela frente como; a paridade salarial e a igualdade na profissão. Já dentro do sindicato espero que a cota de 30% reservado para as mulheres seja respeitado. A mulher negra é a que mais sofre com as diferenças sociais e raciais. Um dos pontos que a mulher mais precisa avançar é em relação a vida pública e ocupação de cargos públicos. O Brasil tem um dos piores índices de participação de mulheres no Poder Legislativo em todo o mundo.
SINTESPE – Qual a posição da mulher no sindicalismo?
Anna Julia – As mulheres estão avançando principalmente porque nos últimos tempos tem participado mais das questões sindicais. A CUT reserva 30% de vagas para serem ocupadas por mulheres. Precisamos ampliar esta participação.
SINTESPE – Qual é a sua principal luta no meio sindical?
Anna Julia – Um levantamento da União Interparlamentar concluiu que apenas 9% dos eleitos são mulheres. O Brasil ocupa a 106ª posição entre 189 países avaliados, mas com uma das taxas mais baixas registradas. Hoje temos, 1 Deputada Federal, 1 Senadora, 3 Deputadas Estaduais e nenhuma vereadora em SC. Apesar de 53% da população brasileira ser mulher, vivemos numa sociedade conservadora e machista, onde mulher não vota em mulher e a participação em pleitos políticos é minoria. Por isso, como sindicalista luto para organizar e estimular a mulher a participar mais da vida política, permanecer na luta e nunca desanimar.