Live do Sintespe destaca o SUS e celebra o Dia Mundial da Saúde
“O servidor da saúde passou do seu limite de ansiedade e insegurança na pandemia”. Esta foi a síntese da palestra do médico do trabalho Roberto Ruiz, durante live promovida pelo Sintespe pela passagem do Dia Mundial da Saúde, transcorrido em 7 de abril. “Defender o SUS é defender a vida”, tema da transmissão que foi ao ar nas redes sociais do Sindicato, teve a apresentação da diretora de formação da entidade, Sayonara de Araújo Pessoa, com exposições da secretária geral e bióloga Marileia Gomes e da representante do Núcleo de Joinville do Sintespe, enfermeira Teresinha Nunes. Debater a realidade da categoria, a crise sanitária da pandemia e a luta pela revogação do teto de gastos (EC 95) e da política de desmonte que os governos vêm impondo à Saúde Pública são objetivos do encontro.
Roberto Ruiz lembrou dos médicos, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogas. Laboratoristas, bioquímicos, técnicos de laboratório e demais profissionais e comparou a pandemia a uma “bomba atômica, caindo na cabeça dos profissionais da saúde”. Médico do Trabalho na UFSC, Roberto Ruiz citou o caso de um paciente que testou positivo para Covid, permaneceu internado por 10 dias e saiu, fisicamente, sem sequelas, mas emocionalmente abalado com o que viu nos quatro dias de UTI. “Falta de ar traz desespero”, disse Ruiz, “na UTI, ela viu gente morrer ao seu lado, médicos tentando reanimação, o pessoal acabado, com problema psicológico por causa de tanta tragédia”. Que poderia ser evitada se o Ministério da Saúde tivesse liderado o programa de vacinação. “Um governo que reduz verbas, destroça e desorganiza sistema montado na Saúde”, critica. “É um modo de pensar, que retira dinheiro do SUS e corta o financiamento. A gente sabe que Saúde é cara em todo o mundo, mas é preciso investir”.
O médico defende o trabalho remoto como forma de reduzir o contágio. “Fomos atropelados pela Covid, a saída é o isolamento social, não tem sentido estar no poder discricionário do chefe que determinado trabalho seja feito presencialmente”. Ele denunciou o aumento de casos de assédio moral durante a pandemia, “uma loucura, pequenos chefes que se mostram maus gestores”, lembrando que o Sintespe trabalha para recepcionar essas pessoas vítimas do assédio, dar suporte médico e moral, atendimento jurídico e sindical”. E as orientações principais: uso de máscara, distanciamento social de 1,5 metro, higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel. Quanto à vacinação, “enquanto governos de outros países correram para comprar a reserva das vacinas, mesmo antes de sua existência, o governo Bolsonaro nada fez”.
A diretora do Sintespe, Mariléia Gomes destacou: “Nada melhor do que fazer a reflexão nesse momento em que somos atacados pelo vírus da Covid 19, termos preocupação com os cuidados, com nossos familiares e os números que somam mais de 4 mil pessoas mortas em apenas 24 horas”. É necessário diminuir esses números, mas os governos não têm vontade política para isso: “Por isso chamamos de “governo genocida”, porque em nenhum momento orientou a população, apenas subestimou o problema, não investiu em vacina, a única alternativa para reduzir o perigo de contaminação”. Advertiu ainda que a liberação da compra de vacinas pela iniciativa privada – o fura fila – “vai encarecer a vacina e diminuir a oferta para o público e para o governo”. E finaliza: “O que mais angustia é não termos um governo que valorize o SUS, que é um sistema universal, atende a todos, é promoção, proteção e prevenção à saúde. Assim, a gente não chegaria a esse quadro da pandemia”.
A enfermeira e diretora do Sintespe, Terezinha Nunes, lembrou que a Organização Mundial da Saúde decretou 2021 como o Ano Internacional dos Trabalhadores de Saúde e Cuidadores Sociais, “para reforçar o compromisso no combate à Covid 19”. A situação é dramática, só na primeira semana de 2021, no Brasil, morreram 30 profissionais de enfermagem, contou: “Os que mais morrem são os técnicos e auxiliares de enfermagem, que estão na ponta do sistema. São esses que pegam o ônibus, que moram nas periferias”. E é para esses que deveriam ser destinadas as vacinas. Segundo o Conselho Regional de Enfermagem, disse Terezinha, Santa Catarina representa 11% dos casos de contaminação de profissionais da saúde no Brasil – 56% com idade entre 31 a 50 anos, a faixa etária mais produtiva. “Não são números, são pais de família. O que significa a perda desse contingente de trabalhadores na área da saúde e enfermagem?”, manifesta a diretora do Sintespe.
No cenário que chama de nada alentador, Terezinha cita que “o Congresso aprovou cortes de 28% no orçamento da Saúde, congelou salários de servidores e a compra de equipamentos e materiais de insumo”. Sobre o Sistema Nacional de Imunização, ela denuncia: “O SUS tem uma só direção, para que o município receba a vacina há todo um caminho a percorrer, desde o Ministério da Saúde. Hoje, no entanto, estamos sem direção. Agora, até as empresas, municípios, estados podem comprar vacina, como pode isso?”, questiona. Terezinha considera um absurdo que empresas comprem vacinas e distribuam parte delas para o SUS. “Estaremos quebrando a espinha dorsal do programa nacional de imunização, referência mundial até hoje”.
Terezinha denuncia que, agindo assim, não vamos garantir a conservação das vacinas, como estão sendo aplicadas e, principalmente, se a vacina chegará a quem realmente necessita, aqueles que pegam ônibus, que estão literalmente expostos, compartilhando quartos, cômodos. “Quais os critérios de vacinação, considerando as desigualdades sociais do país”? Por fim, sugere o lockdown, “parar por uns 20 dias, para podermos diminuir o número de casos. Só vamos conseguir parar a pandemia com a vacinação e o afastamento. A atual governadora, Daniela Reinert já manifestou-se contra o lockdown, é parceira do genocida que está na presidência da República”.
Assista aqui a íntegra do debate promovido pelo SINTESPE