Desafios do Brasil para os próximos 30 anos

É um truísmo nas relações entre Brasil e Reino Unido o fato de a maior economia da América Latina e a primeira letra dos Brics raramente aparecer nos radares de Londres até cinco anos atrás. Os historiadores gostam de culpar o imperialismo britânico do passado e usam o seguinte argumento: o Brasil sempre foi parte da esfera de influência de outro país, e, portanto, Oriente Médio, África e mesmo a China pareciam oportunidades bem mais próximas para negócios.”Explicações”, baseadas no contexto do século XIX, são condescendentes em relação ao Brasil e muito suaves sobre o Reino Unido.
Investidores britânicos dormiram no ponto e falharam ao não perceber a transformação da América do Sul nas últimas décadas. Agora estamos fazendo o máximo possível para recuperar o tempo perdido.
Minha visita ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e São Paulo neste mês será seguida pela de outras autoridades britânicas em breve. Na semana passada, uma delegação brasileira do setor de construção foi recebida em minha residência oficial, Mansion House. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores britânico, apesar dos cortes de gastos, anunciou que expandirá sua presença no Brasil e aumentará a capacidade de nosso consulado em Recife.

Como embaixador do setor financeiro em Londres, estou determinado a encontrar áreas de cooperação, não apenas para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, mas também projetos de infraestrutura e Parcerias Público-Privadas (PPPs), na listagem de empresas britânicas no mercado de ações brasileiro e em outras oportunidades de trabalho conjunto.
País conseguirá transformar esta era de prosperidade em uma economia moderna em todas as frentes?

Alguns pontos positivos merecem destaque: um novo memorando de entendimento para levar adiante o projeto do embaixador britânico, Alan Charlton, de ampliar PPPs em Minas Gerais, o grande interesse em tecnologia britânica capaz de injetar gás em motores a diesel, permitindo que caminhões reduzam emissões de carbono em 18% e sinais de que os planejadores da Olimpíada no Rio de Janeiro estão dispostos a enfrentar o problema da dispersão dos locais onde haverá jogos e eventos.
Uma ideia apresentada – que eu, como engenheiro, considero muito elegante – é de utilizar tecnologia de indução energética com carregadores subterrâneos para sistemas de ônibus elétricos sem fio, acabando com a necessidade de sistemas de ligação direta e permitindo que os ônibus sejam recarregados enquanto se locomovem.
Porém, ainda há problemas, como, por exemplo, a notícia sobre a reação do mercado de seguros sobre a introdução das resoluções 224 e 225. Essa decisão, sem qualquer aviso prévio, consulta ou análise completa de seu impacto foi um choque e, ao conversar pessoalmente com representantes do setor, em sua maioria no Rio, ficou claro para mim que muitos temem uma nova era de regulação instável. Essa é uma notícia grave, já que seguros e resseguros são fundamentais para a infraestrutura financeira e grandes empresas internacionais do setor estão confusas com a mudança repentina. Sinais dos mais altos escalões, de que esse tipo de ação brusca e sem consulta não se torne comum seriam muito bem recebidos pelo mercado global de resseguros.
Contudo, estou certo de que o Brasil superará esses momentos acidentados, visto que há boa vontade, por parte de todos, de abrir o Brasil para a economia global de forma plena e assegurar um futuro sustentável. O Brasil está em uma corrida global por empregos e espero que haja desejo de explorar todas as oportunidades, com Londres e em outros locais.
Apesar de esta viagem ser de aprendizado, acredito que acabar com problemas tópicos como o descrito acima é o desafio chave do Brasil. Na China, costuma-se dizer “devo enriquecer antes de envelhecer”. Isso no Brasil, poderia ser “invista em seus anos dourados para que todos os nossos netos possam ter emprego qualificado se trabalharem para eles”.
Afinal, o Brasil passa por um período de prosperidade com altas receitas geradas pela exportação de minerais e outros produtos, receita de petróleo, com perspectivas de aumento desta receita e uma influência crescente no cenário internacional. Tropeços serão possíveis até que uma economia doméstica competitiva seja estabelecida de maneira formal e sob taxação justa, com boa infraestrutura e vasto alcance social.
O país tem uma enorme quantidade de recursos naturais, mas tem também uma série de problemas relacionados a emprego, capacitação, infraestrutura e educação. O Brasil encontra-se no 127º lugar no Índice de Países mais Propícios para Negócios. O abismo entre ricos e pobres continua um desafio.
Enquanto o mundo estiver ávido por produtos brasileiros, o dinheiro fluirá, parte dele hot money. A questão real não é se recursos altamente capitalizados ou empreendimentos agrícolas possam aproveitar o desejo mundial por matéria-prima: Isso é certo.
 A verdadeira questão é se o Brasil conseguirá transformar esta era de prosperidade em uma economia moderna e competitiva em todas as frentes, com 100 mil novas pequenas empresas, um setor de exportação ágil e em crescimento, educação superior com cérebros competitivos no mercado global, um forte setor educacional, infraestrutura de primeiro mundo, pouca burocracia, e claro, uma classe média que seja mais do que uma classe trabalhadora com poucos recursos e tenha dinheiro suficiente para economizar e possibilitar investimentos futuros.
Sem essas mudanças, o Brasil em 2040 pode estar na direção errada: com grande fluxo de capital, advindo do petróleo, mas sem emprego para a sociedade em geral. O caminho ainda não está traçado e não há razão para que o Brasil deixe de vencer o desafio. Como pude ver durante a semana, seus líderes, como o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reconhecem os desafios e acreditam que parte da resposta seja de que um Brasil, em crescimento sustentado e estável, desempenhe um papel cada vez mais ativo no resto do mundo, em todas as esferas. Londres, o centro financeiro mais globalizado do mundo, está preparado para dar suporte.

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